Ilusão de boa saúde
Homens têm a tendência a buscar atendimento médico quando as coisas estão mais graves. Uma dor leve não é suficiênte para buscar um exame ou atendimento médico. Em 2023, mais recentes dados de mortalidade indicam que a maior causa de mortalidade é infarto agudo do miocáridio. Ocorre que essa causa é evitável com tratamentos (medicamentosos na maioria das vezes) e mudanças no estilo de vida. Na página 11 dessa publicação é possível ver que saúde mental, sedentarismo e alimentação, por exemplo, são fatores de risco e que não requerem intervenção médica.
Interessante (preocupante, na verdade) que, para homens, a partir de 45 anos, considera-se fator de risco, o que só ocorre 10 anos depois para mulheres. Os mesmos 10 anos de diferença é observado quando há histórico na família, indicando que o mais importante é o que é feito (ou deixa de ser feito) e não o histórico familiar, que não deve ser negligenciado, frise-se.
E por qual motivo homens não vão ao médico? Um pista está na Pesquisa Nacional de Saúde, disponível na página SIDRA, do IBGE
Pereceba que entre 2013 e 2019 não houve mudanças significativas e que homens percebem seu estado de saúde melhor que mulheres, mesmo com maior mortalidade por doenças cardiovasculares por exemplo. Consigo imaginar homens falando que 'está tudo bem', 'minha pressão está boa', 'vou parar de fumar', etc. Mas a diferença de mortes por esses motivos permanece a mesma.
Investigando um pouco mais, dados do SUS de 2023 e 2024 mostram que homens fazem menos exames para avaliar o colesterol! Ou seja, ignoram o item 4 da lista acima, um dos fatores de risco. Sendo assim faz sentido que homens indiquem que sua própria saúde é melhor que de mulheres. Não porque efetivamente é, mas porque homens ignoram sua própria condição. As doenças cardiovasculares são silenciosas, assintomáticas. A pessoa pode estar com o colesterol LDL-c alto (o colesterol "ruim") e ficar anos sem saber disso. A partir de 160 mg/dl (pág. 21) o risco já aumenta para esse indicador.
Finalizando, no SUS, o número de exames de colesterol (total, LDL e HDl) feitos no SUS é, sem surpresa) maior em mulheres, na idade com maior número de exames de colesterol (61 anos), mulheres fazem 66% a mais que homens. O gráfico abaixo dá uma ideia melhor do perfil por idade e gênero. Interessante observar que no início da adolescência os homens começam a negligênciar o cuidado com a saúde.